Há alguns anos quando encabeçava uma lista para o Senado da Universidade Técnica de Lisboa, um amigo de direita comunicou-me a sua vontade votar na nossa lista.

Ora esta era uma lista de ruptura. Tínhamos um projecto de esquerda, que nos levava a questionar os moldes reaccionários sob os quais as Universidades estão constituídas. A lista tinha gentes do PCP, actual BE, anarquistas e outros independentes sempre à esquerda, e foi das campanhas mais engraçadas em que participei.
Na altura quando esse amigo de direita me disse que ia votar em nós disse-lhe para não o fazer. Mais; disse-lhe que deveria votar na outra lista composta pela nomenclatura associativa do bloco central, mas que representavam algo muito mais próximo daquilo que ele esperava.
Julgo que pelo facto de estar integrado numa lista, tinha toda a legitimidade para, naquelas circunstâncias, apelar ao voto na outra lista.

Daí achar perfeitamente legitimas as declarações de Saramago sobre o voto em branco. Aliás subscrevo-as. O que diria o poder se em vez de abstenção tivesse 30 ou 40% de votos em branco? Essa sim seria uma forma de protesto.

Ora isto não impede de ter um sentido de voto ou de ser militante de um partido. Não perco legitimidade nem coerência ao dizê-lo ou ao querê-lo.

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