RandomBlog
terça-feira, setembro 30, 2003
  Berlusconices


Berlusconi dixit: "A l'Italia non succedera mai il blackout."
L'Italia risponde: "Cosa potrá succedere a l'Itália con Berlusconi?"
 
  Desejo feito promessa
Depois da visita 400 prometo ir a Fátima se a regularidade com que escrevo para este blog diminuir...
Fica para breve a publicação de material académico...
 
 
O BENFICA GANHOU AO NACIONAL | O BENFICA GANHOU O NACIONAL | O BENFICA GANHOU AO NACIONAL | O BENFICA GANHOU O NACIONAL | O BENFICA GANHOU AO NACIONAL | O BENFICA GANHOU O NACIONAL | O BENFICA GANHOU AO NACIONAL | O BENFICA GANHOU O NACIONAL | O BENFICA GANHOU AO NACIONAL | O BENFICA GANHOU O NACIONAL | O BENFICA GANHOU O NACIONAL | O BENFICA GANHOU O NACIONAL . pim
 
 
Texto de João Soares recentemente publicado no seu site e... posteriormente retirado:

"Almondega.
13-09-2003

É um caso de falta de caracter como há poucos na nossa terra. Coluna vertebral em termos civicos e politicos é coisa que não tem, um verdadeiro molusco. Fisicamente é mais uma pequena almondega. Antes de Abril de 74 primou pela ausencia, depois aderiu ao PCP de que saiu em 26 de Novembro de 75. Esteve pelo PS, no tempo de Constancio, pelo PRD deu tambem um ar da sua graça, passando claro pela sabujice a Cavaco Silva enquanto Primeiro Ministro. Um espanto de rectidão e de coerencia. Puseram-no na Comissão Nacional do PS de novo no ultimo congresso, mas é sitio onde não aparece. Prometi-lhe a doçura de um "eclair" de café nas ventas, claro não se bate numa almondega. Tenho que arranjar tempo de passar por uma boa pastelaria. "


Podia falar sobre os conteúdos ou sobre a almôndega... mas não... prefiro O SILÊNCIO DOS INOCENTES.
 
sábado, setembro 27, 2003
 
 
quarta-feira, setembro 24, 2003
  “a base científica da teoria e crítica da arquitectura é a história"
E que estória é essa da história?

Lembro a primeira vez em que pensei nisto, por volta dos 12 anos.
No final do ano lectivo a professora de história finalmente chegou àquela parte que eu mais ansiava; o 25 de Abril. Relato após relato constato para meu espanto que a história da dita professora não vinha ao encontro da minha, nem no dia da liberdade.... As duas histórias eram incompatíveis; uma falava de descolonização e a outra de alfabetização, uma falava em Abril e liberdade a outra em Spinola e Nato...

Daqui a 100 anos o que se dirá da Guerra do Iraque? Será que se dirá que o povo ficou mais feliz? Que as causas foram humanitárias e que foi uma operação internacional de libertação e aniquilação de um regime sanguinário? O que ficará na história quando a nossa memória se apagar ou quando a nossa boca se calar?

Hoje tenho uma visão profundamente orwelliana da história, tudo se apaga, a mentira é a verdade e a verdade é crime. Por isso não posso ver a história como um saber científico.

Finalmente a Universidade!
 
terça-feira, setembro 23, 2003
  Coimbrices 02
No próximo mês conto discorrer por este blog as linhas iletradas de um arquitecto, estudante de mestrado, que não conhece nem Vitrúvio nem Alberti e que procurará encarar os seus raciocínios por uma linha pouco ocidental, encarando o Renascimento como época destruidora de saberes ancestrais! Abaixo o Renascimento Pim!
 
  Coimbrices
Interrogo-me como é que os textos de Vitrúvio e Alberti terão tido influência na minha arquitectura se nunca os li...
 
sexta-feira, setembro 19, 2003
 
A visão americana/esclarecida do que é a Europa. Neo-Conservadores on the road...
 
 
Por oposição ao Dicionário do Diabo, propõe-se a criação de uma associação de Blogues de Origem Arxista (BOA!), contra a hegemonia desculturalizante da direita!
 
quinta-feira, setembro 18, 2003
 
Na sequência das questões que o abrupto levanta sobre o discurso de alguém de quem não me interessa falar:


Pergunta 220 - Porque é que a ameijoa e a azeitona não ligam com a petinga? Será que fizeram a escolaridade obrigatória?
O arroz não pode servir de ligação?

Pergunta 362 - O que é que faria a petinga se numa noite escura encontrasse o João Ratão?

Pergunta 456 - Porque é que o Paulo Portas nunca mais se encontrou com a petinga? E o Dias Loureiro?

Pergunta 475 - Porque é que a Casa Pia se chama "Pia"? Porque é que não é só "Casa"?

Pergunta 567 - Porque é que se chama Judite à PJ? Não será por essa senhora ter uma casa de pedófilos no Tramagal?

Pergunta 737 - E o que é que me diz a isto Sr. Dr.?
 
 
A propósito do último post do abrupto, com o qual concordo, resolvi aplicá-lo a outros casos de desinformação. Aqui fica:


Ao lerem o Luís Delgado (director da LUSA) para procurar "informação", as pessoas caem num logro. O Luís Delgado não tem informação, tem desinformação, o que é uma coisa completamente diferente. Desinformação, uma arma muito usada pelos serviços secretos americanos que são especialistas na matéria, e que polícias e agentes secretos conhecem bem, consiste numa mistura cuidadosamente doseada de factos verdadeiros e falsos, de insinuações e meias-verdades com verdades inteiras, tendo como objectivo determinados resultados. Ou atingir determinadas pessoas, ou condicionar as investigações, ou descredibilizar a justiça, ou facilitar a defesa, ou dificultar a acusação. O Luís Delgado vem do interior do processo ou das suas adjacências e é uma actividade interessada, e torna os que o leêm e o publicitam em partes no processo de guerra no Iraque. Não há um átomo de inocência em tal actividade, que joga com instintos populistas e voyeuristas e a ingenuidade de muitos, para obter resultados. Quer pôr-se a milhas dos jogos sujos do processo da guerra do Iraque? Não o leia, não há nenhuma informação para si, só manipulação.

Quem pensa que consegue separar dali as verdades da ganga da mentira, é um ingénuo. Não só não tem a preparação, a qualificação e as informações que são necessárias para essa operação. Também aqui os especialistas estão nas polícias e nos serviços secretos que têm a capacidade para analisar a única verdadeira informação que este tipo de produtos contém: a da sua intencionalidade. Quem o fez e porque o fez.

As pessoas tornam-se colaboradoras do Luís Delgado (ou dos Luises Delgados) porque inevitavelmente vão acabar por interiorizar o que lá está e lhes parece verdadeiro, ou porque o suspeitassem, ou porque lhes parece plausível. E vão acabar por repeti-lo, infectando mais gente com boatos e calúnias, realizando o único objectivo do Luís Delgado que não é "informar" os portugueses de algo que lhes escondem, mas manipular a sua opinião a favor de uma tese sobre a guerra do Iraque. As pessoas tornam-se parte de uma arma e essa arma dispara.
 
 
Ao contrário da generalidade das pessoas, ouvi com atenção o discurso do Sr. Ministro da Cultura, na inauguração da qual não quero falar.
Discordo na íntegra do conceito que a qualidade de uma manifestação cultural possa ou deva ser avaliada pela capacidade que tem em congregar patrocínios privados. Penso inclusivamente que um Ministro da Cultura não o deve defender, pois corre o risco de, com o passar dos tempos, deixar de ser necessário passando a cultura para uma Secretário de Estado dependente do Ministério das Finanças.
Discordo ainda que se declare que uma organização com muitos patrocínios privados está mais próxima da "Sociedade Civil".
Não consigo entender como pode o Sr. Ministro considerar uma entidade privada mais próxima da "Sociedade Civil" do que um governo ou um poder local democraticamente eleito pelos portugueses.
 
 
Ainda sobre a inauguração da Experimenta, sobre a qual não quero falar, perguntam-me se vomitei o jantar de comida de astronauta...
 
 
Sinto que devia dizer qualquer coisa sobre a inauguração de ontem da Experimenta Design '03 - Bienal de Lisboa, mas não tenho tempo nem estou para aí virado...
 
quarta-feira, setembro 17, 2003
 
Duas notícias retiradas de leituras bloguistas:

A CML em mais uma sábia tirada pediu aos organizadores do Festival de Cinema Gay e Lésbico para mudarem o nome para Festival da Diversidade. Já estão em fase de execução os joviais cartazes com que a "nossa" CML nos costuma brindar, Neste caso dirão: "A estes até lhes mudámos o nome"
Barnabé

A Política XXI vai acabar no próximo fim-de-semana.
A Praia
 
  Coimbra '03|'05
Novos tempos se avizinham, (e porque o RandomBlog vai de modas) a partir de segunda-feira passo a emitir da capital nacional da cultura.
Que o RandomBlog seja tão transnacional como a resistência ao capital!
 
terça-feira, setembro 16, 2003
  Flash Mob Temático
Ontem Portugal tornou-se o primeiro país a organizar um Flash Mob de jornalistas.
O mob consistia em alinhar o maior número de jornalistas em torno de um não evento em frente à  Assembleia da República.
O jornalista devia chegar ao local pelas 15.30 e, sem dar parte fraca, olhar em torno como quem procura algo.
O Flash Mob continuaria mais tarde, já nas respectivas redacções.
Era-lhes pedido que escrevessem meia página sobre um evento que não sabiam o que era e que não tinha existido.
E assim foi...
Um sucesso!
 
segunda-feira, setembro 15, 2003
  02. Anti-Americanismos (!?)
02. Anti-Americanismos (!?)

 
domingo, setembro 14, 2003
  Berlusconi (e continua....)
Onde se esconde o Abrupto?

"Mussolini non ha mai ammazzato nessuno, Mussolini mandava la gente a fare vacanza al confino" - Silvio

"Ho reagito - sbotta - come qualunque vero italiano avrebbe avuto il dovere reagire. Basta con le strumentalizzazioni, soprattutto da parte di chi ha condiviso per una vita gli orrori del comunismo. Si vergognino" - Silvio
 
  Admissão
Algum dia teria de ser! Aqui seguem algumas linhas sobre a admissão à Ordem dos Arquitectos:

Como princípio defendo que qualquer cidadão com um curso universitário na área da arquitectura deve ser automaticamente aceite na sua Ordem profissional. Defendo ainda que a Ordem dos Arquitectos abra as portas a qualquer cidadão que demonstre ter um nível de experiência e conhecimentos que lhe permitam exercer os actos próprios da profissão de arquitecto.

Por outro lado, entendo que o papel principal da Ordem dos Arquitectos (enquanto associação profissional de direito público) deverá ser o de zelar pelo direito universal à arquitectura e apenas numa segunda fase a defesa do seu associado.

Estes são dois príncipios que considero fundamentais numa associação profissional de direito público, mas que por situações alheias à O.A. tornaram-se incompatíveis nos últimos anos, pelos motivos que passo a explicar.

No final da década de 80 e em toda a década de 90, a monogâmica relação PS/PSD foi construindo um aliado institucional fundamental - as Universidades. A bem da nação bradou-se pela indepêndencia e autonomia das Universidades, e passo a passo foram-na constituindo como um novo poder.
Quem não se recorda do Governo do Instituto Superior Técnico, capitaneado por Guterres? Quem não reconhece no actual Governo inúmeros professores da Universidade Lusíada ou o Ministro da Educação Pedro Lynce enquanto produto de um voto combinado no Senado da Universidade Técnica de Lisboa?
Não quero com isto dizer que um Governo ou outro tivesse beneficiado mais esta ou aquela Universidade.

O que quero salientar é o enorme poderio político e económico que as Universidades têm actualmente. Abrigadas pela Lei da Autonomia Universitária e por orgãos de carácter pouco democrático, como Senados ou Assembleias de Representantes, é nas Universidades que se tratam os mais importantes jogos de cadeiras da nação.

Ora esta situação transformou o ensino da Arquitectura na manta de retalhos que é hoje. Na decada de 90 com as Faculdades de Arquitectura de Lisboa e Porto a absorveram apenas cerca de 10% dos candidatos deu-se um boom de novos cursos de arquitectura. Em 10 anos o número de cursos de arquitectura quadriplicou sempre com o Sim Sr. Reitor dos diferentes Ministérios.

Mas o interesse das Universidades não era a resposta a uma necessidade do “mercado” mas sim uma aspiração ao lucro fácil e imediato, sem ter em conta que o curso de arquitectura é dos mais caros em termos de implementação (só suplantado pela medicina). A arquitectura não pode ser leccionada sem computadores, sem livros, sem estiradores.

Algumas “instituições universitárias” passaram então para o plano B e transformando a licenciatura (tradicionalmente de 6 anos) em 4 anos, de grandes méritos, boas notas e parcas condições oferecia-se um diploma a pouco custo… temporal.

Foi nos dois últimos anos que esta situação começou a ser registada às portas da Ordem dos Arquitectos o que a obrigou a partir para uma área onde não se deveria intrometer – o ensino da arquitectura.

Aquilo que se constata é arrepiante.
Desde a “faculdade” que leccionava de 5ª feira a sábado, em que o nº total de horas do curso rondava as 2000 horas e os alunos com média mais baixa rondava os 17 valores… depois existe a “universidade” que diz ter uma biblioteca de arquitectura referindo-se a 14 livros desactualizados e zero computadores… e outra que tem no seu quadro seis arquitectos para leccionar um curso de arquitectura.
Estes casos são todos de cursos reconhecidos pelo Ministério da Educação.

Não se trata, então, de um problema corporativo, para limitar o acesso à profissão.
É uma fraude institucionalizada, que a Ordem enquanto associação de direito público tem obrigação de denunciar.
 
sexta-feira, setembro 12, 2003
 
ArquitBlogs:

o pai
arquichatos
os vizinhos
os rumos
lisboa a arder
o criador
 
 
Visto que o abrupto colocou esta coisa dos blogs num registo de futebol - Esquerda vs Direita, cumpre-me o mais alto desígnio militante de saúdar a chegada do nosso novo ponta de lança barnabé
 
  Memorial dos Anos Felizes

Por LUIS SEPÚLVEDA
Quinta-feira, 11 de Setembro de 2003

Os mil dias do Governo de Unidade Popular foram muito duros, intensos, sofridos e ditosos. Dormíamos pouco. Vivíamos em todo o lado e em lado nenhum. Tivemos problemas sérios e procurámos soluções. Esses mil dias podem ser acompanhados de qualquer adjectivo, mas se há uma grande verdade é que, para todos aqueles e aquelas que tivemos a honra de ser militantes do processo revolucionário chileno, foram dias felizes, e essa felicidade é e será sempre nossa, permanece e permanecerá inalterável.

Queridas companheiras, queridos companheiros. Quem de nós pode esquecer o sorriso dos irmãos Weibel, de Carlos Lorca, de Miguel Enríquez, de Bautista von Schowen, de Isidoro Carrilo, de La Payita, de Pepe Carrasco, de Lumi Videla, de Dago Pérez, de Sérgio Leiva, de Arnoldo Camú, de todas e todos os que hoje, trinta anos mais tarde, não estão connosco mas vivem em nós?

Cada uma e cada um tem na sua memória um álbum particular de recordações felizes daqueles dias em que demos tudo, e parecia-nos que dávamos muito pouco, porque tínhamos gravado na pele os versos do poeta cubano Fayad Jamis: "por esta revolução haverá que dar tudo, haverá que dar tudo, e nunca será o suficiente". Houve quem no cómodo e cobarde cepticismo desfrutou de um tempo morto a que chamaram juventude. Nós, sim, tivemos juventude, e foi vital, rebelde, inconformista, incandescente, porque se forjou nos trabalhos voluntários, nas frias noites da acção e propaganda. Não houve beijos de amor mais fogosos do que aqueles que se deram no fragor das brigadas muralistas. Aquele que beijou uma rapariga da brigada Ramon Parra ou Elmo Catalán beijou o céu e não houve espada capaz de tirar esse sabor dos lábios.

Outros, na atroz cobardia dos que criticaram sem dar nada, sem se queimar, sem arriscarem, sem conhecer o magnífico sentimento de fazer o que é justo e no momento justo, nas suas mansões sem glória, comendo na prata que herdaram dos comendados e bebendo puro suor dos operários, avisavam que estávamos a cometer excessos. Claro que cometemos erros. Éramos autodidactas na grande tarefa de transformar a sociedade chilena. Metemos muitas vezes o pé na argola mas nunca as mãos nos bens do povo. Enquanto outros conspiravam, nós alfabetizávamos. Enquanto outros se aferravam com fúria homicida aos seus bens mal adquiridos, pois a propriedade da terra vem sempre do roubo, nós permitimos que os párias da terra olhassem pela primeira vez para os olhos do patrão e lhe dissessem: "Grande filho-da-puta, exploraste-me, tal como aos meus pais e avós, mas aos meus filhos e aos filhos dos meus filhos não os explorarás." E essas palavras são parte do nosso legado feliz, da nossa memória feliz.

Fumávamos "marijuana" dos Andes misturada com tabaco doce dos Baracoas. Ouvíamos os Quilapayún e Janis Joplin. Cantávamos com Victor Jara, os Inti Illimani e os The Mamas and Papas. Dançávamos com Hector Pavez, Margot Loyola, e os quatro rapazes de Liverpool fizeram suspirar os nossos corações. Usámos calças à boca de sino e as nossas raparigas minissaias que excitavam Deus e o Diabo. E tínhamos maneiras próprias de estar, que com uma só palavra diziam quem éramos e o que sonhávamos: Olá, companheira, olá companheiro. E com isso ficava tudo dito.

Angel Parra, Rolando Alarcón, Isabel Parra e mil cantores populares deram-nos uma nova dimensão do amor, esse formidável verbo que começámos a conjugar à nossa maneira.

Traçámos metas impossíveis, SUL-realistas, e cumprimo-las. Por uma vez na nossa história, todos os meninos do Chile mamaram meio litro de leite, de leite branco e justo, de leite necessário e proletário, porque o pagaram justamente os que produziam a riqueza. Um dia fez-se a grande conferência da UNCTAD [Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento], e os arquitectos, e os engenheiros, e os capatazes opinaram que não era possível levantar o grande edifício que nos mostraria como um povo em marcha, mas os nossos pedreiros, electricistas, estucadores e professores de capacete salpicado de gesso disseram que sim, que era possível, e fizeram-no. Mais tarde foi o edifício da juventude chilena. Quem não comeu algum dia na UNCTAD, chamado também edifício Gabriela Mistral e que mais tarde foi usurpado pelos assassinos? Todavia, ele aí está e aí permanecerá como um enorme testemunho desses mil dias em que tudo foi possível.

Os que não tinham imaginação nem lugar nesse reino do possível, do dito possível, conspiravam contra o sol, contra o mar, contra o Verão a partir das suas mansões de Reñaca ou Papudo. Mas nos balneários populares as famílias dos operários tinham pela primeira vez a possibilidade de estar ao sol, junto ao mar, que de verdade nos banhou tranquilo. Jogaram ao pôr-do-sol, passearam de mão dada, amaram-se, fizeram planos possíveis, enquanto as crianças eram entretidas pelos voluntários da Federação de Estudantes do Chile, e divertiam-se com os títeres, o teatro, as aulas de música e de pintura dadas por artistas militantes de um povo em marcha.

Hoje, trinta anos depois, alguns dos que não tiveram a ousadia de se envolver, de dar tudo, ufanam-se de uma estranha capacidade premonitória que lhes permitiu vaticinar o desastre e os aconselhou a manter-se à margem. Miseráveis, pobres miseráveis que perderam a oportunidade mais bela de fazer história, mas de a fazer justa. Esses mesmos são hoje os paladinos da reconciliação e apontam-nos os "excessos". Mas esses iluminados nunca mencionam um desses excessos em particular: Provocámos o imperialismo ianque quando nacionalizámos o cobre? Esquecem que o fizemos com tanta suavidade, inclusivamente pagando indemnizações, que chegámos a ser alvo de críticas da própria esquerda. Mas fizemo-lo assim porque não queríamos a confrontação directa com o inimigo da humanidade. Soubemos responder às provocações com vigor e com violência quando ela foi precisa, mas nunca provocámos. O nosso tempo era o tempo dos construtores, prestávamos toda a atenção à argamassa que uniria os ladrilhos da grande casa chilena, e nenhuma à conjura porque éramos e somos mulheres e homens de honra.

A maior expressão cultural de um povo é a sua organização, e fomos um povo muito culto porque a nossa organização, polifacetada, plural, às vezes docemente anárquica, orientava-nos para a vida. O sonho de Salvador Allende era elevar a expectativa de vida dos chilenos para os níveis dos países desenvolvidos. O seu desafio pessoal era permitir que cada chileno tivesse vinte anos mais para desenvolver a sua capacidade criadora, o seu engenho, e para que a velhice deixasse de ser um espaço de miséria e derrota, e fosse, pelo contrário, a soma de uma experiência, a herança de um povo.

Numa entrevista com Roberto Rossellini, o companheiro Presidente conta-lhe que as suas mãos de médico tinham realizado mil e quinhentas autópsias, que as suas mãos de médico conheciam a atroz força da morte e a precária fortaleza da vida. Salvador Allende foi o líder mais preclaro da América Latina, a vida era a sua companhia, e a vida foi a nossa bandeira de luta.

A trinta anos do crime, há miseráveis que interpretam o suicídio de Allende como uma derrota. Não entendem as razões de um homem leal, que no fragor do combate entendeu que o seu último sacrifício evitaria ao seu povo a máxima das humilhações: ver o seu dirigente, o seu líder, algemado e à mercê dos tiranos.

Queridas companheiras, queridos companheiros: não há maior honra do que a de ter sido companheiros de luta e de sonho como Salvador Allende. Não há maior orgulho do que esses mil dias liderados pelo companheiro Presidente.

Não somos vítimas nem do destino nem da ira de um deus enlouquecido. A história oficial, a mentira como razão de Estado, apresenta-nos como responsáveis de um crime que, cada vez que tentam explicar, as palavras fogem das suas bocas, pois não querem ser parte do vocabulário da vergonha. Se a nossa intenção de fazer do Chile um país justo, feliz e digno nos faz culpados, então assumimos a culpa com orgulho. A prisão, a tortura, os desaparecimentos, o roubo, o exílio, o não ter um país para onde voltar, a dor, se tudo isso era o preço a pagar pelo nosso esforço justiceiro, então saiba-se que o pagámos com o orgulho dos que não renunciaram à sua dignidade, dos que resistiram nos interrogatórios, dos que morreram no exílio, dos que regressaram para lutar contra a ditadura, dos que ainda assim sonham e se organizam, dos que não participam na farsa pseudodemocrática dos administradores do legado da ditadura.

Juntamente com Salvador Allende fomos protagonistas dos mil dias mais plenos, belos e intensos da história do Chile. Sobre nós deixaram cair todo o horror, mas não conseguiram apagar dos nossos corações o Memorial dos Anos Mais Felizes.

Quando, nos momentos mais duros dos nossos mil dias, a provocação do fascismo, da direita, do imperialismo ianque, fazia com que a ira se instalasse perigosamente nos nossos ânimos, o companheiro Presidente aconselhava-nos: "Vão para vossas casas, beijem as vossas mulheres, acariciem os vossos filhos." Agora, a trinta anos da grande traição, que a proximidade dos nossos, que a recordação dos que faltam, e o orgulho de tudo o que fizemos sejam os grandes convocantes do que devemos lembrar. Que as palavras "Companheira" e "Companheiro" soem como uma carícia, e bebamos com orgulho o vinho digno das mulheres e dos homens que deram tudo, que deram tudo pensando que não era o suficiente.



<Texto publicado no PÚBLICO de ontem>


 
quarta-feira, setembro 10, 2003
 
FLASH MOB | lisboa 15 de setembro 15.30 Ass. da República
 
 


Dia de Anos | Dia em que se aspira à  normalidade
 
terça-feira, setembro 09, 2003
 

ALERTA | Géninhos avançam para o Iraque


 
 
Depois de alguns escritos sobre a memória trapalhona chega hoje a DÚVIDA, despertada pelo texto de 4 de Setembro do Aviz.

O que se quer dizer naquele texto?

Escreve o Aviz que tanto a direita como a esquerda tiveram certezas universais que entretanto ruíram? Mas não será o inverso igualmente válido?
As guerras continuam a ser feitas em nome da Pátria ou daquilo a que se chama Deus, e a esquerda continua a existir com experiências mais ou menos conseguidas mas, desde Marx, com esta foice discursiva sobre a sua morte iminente.

Questiona-se se a esquerda dúvida mais?
A esquerda deve duvidar mais - respondo eu. Deve fazer da dúvida e da auto-crítica o seu mais importante instrumento de trabalho.

... E aqui ficam algumas breves "certezas panfletárias":
A Direita não morre com Hitler nem a Esquerda vive de Estaline
Bush = Hitler (em épocas e espaços diferentes) ver É PC (Politicamente Correcto) de hoje
A certeza só se consolida a partir do esgotar da dúvida
A Esquerda constrói-se e reconstrói-se sempre.
 
 
Novo visual?
1, 2, 3, experiência...
 
segunda-feira, setembro 08, 2003
  Confesso que tentei!
De facto confesso que estive a tentar dar um salto de qualidade na página RandomBlog. Confesso, ainda, que não obtive resultados!

Primeiro tentei colocar os textos abertos ao eventual comentário do leitor - a eterna tentativa de perceber aquele que está do outro lado do muro.
Mas, sem sucesso. Rapidamente percebi que a lógica informática, mais random do que o RandomBlog, se impunha à objectividade matemática de um simples copy/paste.
E lá fui eu tentar reposicionar-me na blogosfera fornecendo links para sites escritos por pessoas de que gosto (porque isto de eleger a galeria de links não se deve olhar a políticas, futebóis ou modos de escrever, num blog ou se gosta ou não se gosta, ou se passa uma única vez ou se volta a passar).
Estava eu no meio desta reflexão sobre a orgânica interna de selecção de links para o RandomBlog, visto que a sua inserção não me parecia coisa de grande artesão quando o primeiro e quiçá o pioneiro Aviz se ia repetindo infindavelmte pela infame coluna da direita do ecran.
E... a determinado ponto foi o bak e pufff... todo o ecran azul e um emagrecimento compulsivo da coluna escrita.
Confesso que tentei.... I'll be back.
 
sexta-feira, setembro 05, 2003
  01. Anti-Americanismos (!?)




Passaram 15 anos.
Foi uma corrida excepcional, metade dos atletas correram os 100 m abaixo dos 10.00 segundos.
Uma média superior a 36 Km/h, sendo que no pico de velocidade aqueles seres humanos suplantavam os 50 Km/h.

Mais tarde o 1º classificado foi desclassificado por utilização de substâncias dopantes... Era canadiano.
Hoje sabe-se que o 2º classificado teve duas análises positivas durante a fase de preparação para os Jogos. A sua Federação de Atletismo ocultou-o... Era americano... Ganhou o ouro Olímpico!


 
quinta-feira, setembro 04, 2003
 

Hoje chegou-me, via email, este texto do Vinicius que não posso deixar de publicar:


"Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos.
Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles. A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objecto dela se divida em outros afectos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade.
E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!
Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências...
A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem.
Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida.
Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar.
Muitos deles estão lendo esta crónica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos.
Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure.
E às vezes, quando os procuro, noto que eles não tem noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.
Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado. Se todos eles morrerem, eu desabo!
Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles.
E me envergonho, porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.
Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles. Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim,
compartilhando daquele prazer ...
Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos!

A gente não faz amigos, reconhece-os."


[Vinícius de Moraes]



SARAVÁ VINICIUS !
 
quarta-feira, setembro 03, 2003
 


URBAN75
 
 
Ontem decidi tornar o RandomBlog público.
Foi um pouco como o primeiro dia de escola...
Não sei bem o que fará uma pessoa que não seja um amigo vir visitar o meu blog, não VIPo, não escrevero coisas sobre a Casa Pia, nem Pipinarei...
De qualquer forma tinha a incontornável vontade de perceber quem... ou melhor quantos são os que nos ouvem, digo... lêem.

A grande dúvida foi a classificação do RandomBlog... Serviço Público? Media?... na realidade queira fazer um blog sobre nada ou sobre outra coisa qualquer... algo muito meu e... de quem o lê...
Escolhi por o Blog no tema Filosofias... e tudo por causa daquele "s" do final... se fosse filosofia não o teria posto pois penso que seria para pessoas de boa memória e com pouca queda para a cábula... e assim acontece...
 
  "O mais desejado"
O Expresso do fim de semana já vai tendo sequelas:
http://www.dn.sapo.pt/noticia/noticia.asp?CodNoticia=118440&codEdicao=807&codAreaNoticia=10

Meus senhores, HAJA MEMÓRIA! e tenham vergonha.
Para anular estas falsas "vagas de fundo" à direita, só um bom candidato de esquerda.
 
terça-feira, setembro 02, 2003
 
A cábula.

Sempre a usei e defendi.
Para alguém que tem uma memória irregularmente selectiva, era um pesadelo ter de empinar toda uma ancestralidade de referências ditas de grande importância, mas que a Teimosa (memória) insistia em esquecer.
Por isso a cábula acompanhou o bom aluno até ao fim.
Hoje cada vez que tenho de debitar um discurso aparentemente mais articulado, lá vem a amiga da Teimosa, de uma forma mais institucional, mas, igualmente camuflada por temor de um professor mais zelador.

Depois de uma experiência de dezoito anos como aluno devo referir que existia uma certa proporcionalidade directa entre o bom professor ao qual a utilização da cábula era indiferente e uma proporcionalidade indirecta para com o mau professor inseguro que tinha no exame ou no teste a única forma de exercer o seu poder.

Mas esta reflexão tem sobretudo a ver com o problema de memória que ciclicamente me atinge quando em cada trimestre compro o Expresso.
Decidi que necessito de uma cábula.
Por isso, caro JAS, por mais que me revolte o estômago e me arrepie a espinha, irei guardar o teu último editorial assim como afixá-lo na porta de casa, para me recordar de não mais comprar o teu jornal!
 
Notícias da Resistência | desde Agosto de 2003 m@il | tiagoms3@yahoo.com.br




  • "(...) porque Cavaco simboliza aquilo que mais náuseas me provoca: a banalização de tudo, o sucesso ranhoso e vazio, o atropelo dos valores e das pessoas, o autoritarismo descabelado, a demagogia, o nacional-carreirismo e os favores, a aldrabice e a cunha, a indiferença, o elogio da pirosice, a ignorância e a escandalosa nulidade cultural, etc, etc..."
    Al berto, "NEM MAIS - jornal do movimento de jovens apoiantes incondicionais de sampaio", 1995




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