Aqueles que me conhecem sabem bem da minha tendência pequeno-burguesa, para muitas vezes me entusiasmar com as causas do Bloco. Quem me conhece sabe também que fiquei contente com a votação que este partido obteve.
Contudo durante a noite eleitoral este estado de espírito foi-se alterando, em particular quando Francisco Louçã referiu que em duas semanas o Bloco daria entrada, na Assembleia da República, com uma proposta para um novo referendo sobre a interrupção voluntária da gravidez.
Este é de facto, um problema da sociedade portuguesa que se deve resolver nesta legislatura e entendo que, na linha da intervenção pré-eleições do Padre Loreno, o eleitorado deu um sinal claro sobre o que pensava do assunto. O Bloco, durante a noite eleitoral, veio baralhar as coisas, procurando fazer um aproveitamento político da situação, que em nada beneficia (e até prejudica) quem é obrigado a recorrer à interrupção voluntária da gravidez.
Esta não é uma matéria que possa servir de jogo político e que a meu ver até poderá ser (e após um resultado eleitoral tão clarificador) resolvida na Assembleia.
Ao invés, compreenderia que o BE tivesse na noite eleitoral procurado exercer alguma pressão pública para que se fizesse o referendo à Constituição Europeia. Esta matéria, da qual desconheço a posição do BE em profundidade, prepara-se para passar à margem do debate público, tendo já passado à margem das eleições legislativas.
Se o BE queria levantar uma bandeira, se queria um referendo, falhou o alvo.
A declaração da noite eleitoral prejudicou a batalha para a despenalização da IVG transformando-a numa cena de "
politiquice" e ajudou a mascarar a farsa que continua a ser cozinhada sobre a Constituição Europeia.