A homenagem merecida do Pai Saraiva à Associação de Artistas Plásticos de Campo Maior:
AAPCM – vinte anos depois
Saindo de Elvas em direcção a norte, percorridos dúzia e meia de quilómetros pela EN 373, chega-se às portas de Campo Maior. Surge-nos então a imagem de uma terra serena, verdejante, senhorial e viva, paredes-meias com a fronteira espanhola, mas com sete séculos de coração virada para o lado luso. E desde logo sentimo-nos presos ao seu enorme fascínio, que jamais esmorecerá, crescendo sempre em cada visita repetida.
Percorridas mais algumas centenas de metros chega-se ao Jardim, preferencial centro de encontros para as gentes naturais e gentes de fora. É aí onde se inicia o convívio, onde sempre se volta, quando se torna. Sentados no refrescar da sombra de uma esplanada, ou no cavaqueio em tertúlia pelo passeio central, renovam-se e descobrem-se passados e novidades, fortalecem-se e criam-se amizades. E estamos convictos que foi nestas paragens, num qualquer dia menos suarento ou noite mais refrescante, que um grupo de amigos ligados pelas graças do associativismo e gostos nas artes, semeou o que cresceu como AAPCM – Associação de Artes Plásticas de Campo Maior – uma realidade de vinte anos de história.
Foi por certo nesse espírito, no prazer e entusiasmo, que a Associação viveu (e viverá), imbuída na força de vontade de um punhado de criadores de sonhos. Num constante remar contra marés de incompreensão e alheamento, sem obedecer a directrizes oriundas de qualquer poder político, sem notoriedades mediáticas por via da comunicação social, a Associação desponta nos entusiasmos sonhados após 25 de Abril, conseguindo sobreviver a outras organizações gémeas, nascidas na chamada Grande Lisboa (que há muito findaram), com uma entrega total e “feroz carolice” por parte daqueles que formaram as suas sucessivas Direcções.
Sócio nº 34 desde os anos de 1987, é sempre com emoção e ternura que nos reencontramos com os amigos de Campo Maior, por ocasião da abertura de nova mostra de trabalhos, no seio da AAPCM.
E ter o privilégio de deambular em conversas sem rebusquices pseudo-culturais, ouvir e contar histórias sem peias, falar e relembrar ausentes sem maledicências, é também para nós, oriundos de um litoral apinhado, “stressado” e turbulento, um excelente momento de pacificação, alegria e prazer.
Que cada novo ano da AAPCM se viva como se fora na mais bonita e engalanada rua, repleta de grinaldas e enfeites, na mais colorida Festa das Flores.
Abril 2005
Duarte Saraiva