1 de Outubro de 1995 | A primeira derrota eleitoral de Cavaco
"Portugal acorda hoje como um país muito diferente", assim começava o editorial do "Público" do dia 2 de Outubro, escrito pelo seu director Vicente Jorge Silva, mais tarde deputado do PS e Blogger do Causa Nossa. Na primeira pasta, o "Público" desenhava a nova configuração da Assembleia da República na qual PS e PCP/PEV, com quatro deputados ainda por apurar, somavam 55,75% dos votos.
O PS, em comparação com os resultados de 1991, tinha mais 900 mil votos e não chegava à maioria absoluta, o PSD (de Fernando Nogueira) perdia quase um milhão de votos e o PP tinha um resultado histórico à custa do PSD passando a ser a terceira força em número de votos (mais 250 mil). O PCP-PEV não sofria tanto com o voto útil no PS como as sondagens haviam prognosticado, mas continuava a descida em número de votantes (menos 1000) e deputados (menos 2 deputados). O PSR, ao contrário do que diziam as sondagens, inclusivamente, as da noite eleitoral, não elegia mais uma vez, Francisco Louçã, perdendo quase metade dos seus votantes (menos 30 mil votos).
Era há dez anos, e na TSF os resultados iam sendo comentados por Teresa Sousa, Carlos Magno e Marcelo Rebelo de Sousa. Foi aquele famoso ano em que a SIC se adiantou a todos, revelando às 18h24 ainda com o acto eleitoral a decorrer, que Guterres havia ganho.
No dia 2 de Outubro acordávamos mais livres. Cavaco embora se tivesse escondido por trás de um tabú, tinha perdido pela primeira vez.
No PSD começava o tiroteio em que se pedia a cabeça de Fernando Nogueira e, Durão Barroso, apelava à candidatura de Cavaco à Presidência da República. Um actor, daqueles que dez anos depois nunca mais ouvimos falar - Ribeiro da Silva, preidente da distrital de Braga do PSD de acordo com o Público "íntimo de Eurico de Melo", colocava-se ao lado do líder, dizendo "Tenho umas coisas a dizer ao prof. Cavaco Silva, mas vou dizê-las a sós". Já então Cavaco havia prejudicado o seu partido em prol da sua estratégia pessoal.