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A homenagem merecida do Pai Saraiva à Associação de Artistas Plásticos de Campo Maior:
AAPCM – vinte anos depois
Saindo de Elvas em direcção a norte, percorridos dúzia e meia de quilómetros pela EN 373, chega-se às portas de Campo Maior. Surge-nos então a imagem de uma terra serena, verdejante, senhorial e viva, paredes-meias com a fronteira espanhola, mas com sete séculos de coração virada para o lado luso. E desde logo sentimo-nos presos ao seu enorme fascínio, que jamais esmorecerá, crescendo sempre em cada visita repetida.
Percorridas mais algumas centenas de metros chega-se ao Jardim, preferencial centro de encontros para as gentes naturais e gentes de fora. É aí onde se inicia o convívio, onde sempre se volta, quando se torna. Sentados no refrescar da sombra de uma esplanada, ou no cavaqueio em tertúlia pelo passeio central, renovam-se e descobrem-se passados e novidades, fortalecem-se e criam-se amizades. E estamos convictos que foi nestas paragens, num qualquer dia menos suarento ou noite mais refrescante, que um grupo de amigos ligados pelas graças do associativismo e gostos nas artes, semeou o que cresceu como AAPCM – Associação de Artes Plásticas de Campo Maior – uma realidade de vinte anos de história.
Foi por certo nesse espírito, no prazer e entusiasmo, que a Associação viveu (e viverá), imbuída na força de vontade de um punhado de criadores de sonhos. Num constante remar contra marés de incompreensão e alheamento, sem obedecer a directrizes oriundas de qualquer poder político, sem notoriedades mediáticas por via da comunicação social, a Associação desponta nos entusiasmos sonhados após 25 de Abril, conseguindo sobreviver a outras organizações gémeas, nascidas na chamada Grande Lisboa (que há muito findaram), com uma entrega total e “feroz carolice” por parte daqueles que formaram as suas sucessivas Direcções.
Sócio nº 34 desde os anos de 1987, é sempre com emoção e ternura que nos reencontramos com os amigos de Campo Maior, por ocasião da abertura de nova mostra de trabalhos, no seio da AAPCM.
E ter o privilégio de deambular em conversas sem rebusquices pseudo-culturais, ouvir e contar histórias sem peias, falar e relembrar ausentes sem maledicências, é também para nós, oriundos de um litoral apinhado, “stressado” e turbulento, um excelente momento de pacificação, alegria e prazer.
Que cada novo ano da AAPCM se viva como se fora na mais bonita e engalanada rua, repleta de grinaldas e enfeites, na mais colorida Festa das Flores.
Abril 2005
Duarte Saraiva
Os faxes trocados entre o PS e o PCP estão
neste link. Para que se acabem as dúvidas e o disse-que-disse.
PCP+VERDES+BE!
Ao longo dos últimos dias o
JRD, com sabedoria, tem vindo a comentar os posts sobre a ex-coligação de Lisboa. Pois é, afinal parece que não vai haver. Nem PS+PCP+VERDES+BE, nem PS+BE.
O PS julga que uma imagem, a de Bárbara não a dos "!", valerá mais do que o apoio da esquerda. Mais uma vez o aparelho do PS constrói a teia (que já destruiu Guterres e que conduziu a 3 anos de Governo de Direita), sempre tecida pelas mesmas pessoas. Os Vasco Franco's, Umberto Pacheco's ou Miguel Coelho's falam sempre mais alto.
É um momento de reflexão para a esquerda real, também este PS tem de ser
unitariamente combatido sem exitações.
(após a escrita deste texto passei os olhos pelos blogs de alguns companheiros de outras lutas e, é com estupefação que vejo estas opiniões. Coligação sim, mas nunca a qualquer preço. Esperemos que a esquerda sobreviva...)(esclarecimento: o que veio a publico, e não foi desmentido, é que a proposta do PS era ter mais vereadores que a soma dos vereadores do PCP+VERDES+BE)
Ordinices
Há momentos em que é preciso fazer qualquer coisa, e que já se sabe o quê!
A coligação de esquerda para Lisboa ainda não existe mas já se arrasta em lenta agonia...
Ao contrário daquilo que sempre defendi começo a achar que não haverá grande base para a fazer. Na velha tradição do aparelho concelhio do PS, discutem-se lugares em vez de se discutir um projecto para a cidade. A ver vamos como correm os próximos dias.
Ordinices
Há momentos em que é preciso fazer qualquer coisa, mas não se sabe o quê...
(sempre que falo sobre a Ordem dos Arquitectos este blog tem dias de visita agitados... hoje não irei falar mais sobre "a casa" pois iriam ser escritas coisas precipitadas e pouco amadurecidas, esperemos que a frieza dos dias arrefeça o calor das angústias)
A queda e fuga para a frente de Berlusconi pode-se ir acompanhando
aqui.
Hoje são várias as coisas que me motivam a escrita.
A mais triste, sem dúvida, é o desaparecimento do Edgar Correia. Ao Edgar (filho) e à Helena, aqui fica o meu abraço sempre solidário.
A notícia ainda não é oficial.
Mas corre pelos corredores políticos de Roma que Berlusconi apresentará hoje a sua demissão do cargo de Presidente do Conselho. Esta crise é provocada pela perda da maioria parlamentar na Câmara de Deputados com a saida da UDC do Governo.
Notícia fresca:
Berlusconi vai-se demitir, dentro de algumas horas.
A Opus fá-los todos iguais!
Bento há só um!
Manuel Galrinho BentoJogou 20 épocas no Benfica, entre 72/73 e 91/92. Fez 611 jogos, sofrendo 447 golos. Estreou-se pela mão de Jimmy Hagan, a 01/09/72, em Jacarta, num jogo de carácter particular, frente à selecção da Indonésia.
Titular indiscutível da baliza encarnada durante 11 épocas, entre 75/76 e 85/86, Bento é, de todos os guarda-redes que já passaram pelo Benfica, o que detém as melhores performances, com destaque para a série de 11 jogos consecutivos que esteve sem sofrer golos, de 10/11/85 a 05/01/86.
Arrojado, dotado de excelentes reflexos e possuidor de um sentido posicional invulgar, Bento primava pela sua acção entre os postes e fora destes. Era rápido a pensar e a agir, em voo, em mergulho ou a sair a pontapé.
Ficou famoso pelo arremesso da bola à mão para o meio campo, proporcionando rápidos contra-ataques à equipa.
Era, também, para além de bom defensor de grandes penalidades, um bom executante deste castigo, característica que lhe permitiu evidenciar-se no desempate de alguns jogos ou eliminatórias. Mas não só. Marcou mesmo um golo ao Sporting, a 23/06/76. Durante a sua carreira, somou 63 internacionalizações pela Selecção Nacional, que capitaneou em 26 ocasiões. Pelo Benfica, conquistou 8 Campeonatos Nacionais e 5 Taças de Portugal.
Ganhou o
funcio reaccionário.
Joseph Ratzinger, Benedetto XVI. Agora só nos resta o Festival da Canção.
Vamos lá ver... Perdemos o Euro... A ver se ganhamos o Papa
Estes posts não vêm por acaso Neste fim de semana foram desalojados os ocupantes do Paradiso Ocupado, em Lisboa.
Okupas de RomaEm Itália o movimento okupa teve o seu apogeu no início dos anos 90, com o movimento pantera que encerrou escolas e universidades e que transfigurou uma geração. O movimento social teve característica tão globais que até se ocupou um Forte (Forte Prenestino) e uma zona de indústrias (Villaggio Globalle). As ocupações ainda hoje se mantêm (talvez seja a única coisa que restou do movimento) tendo vindo a ser, ao longo dos anos, legalizadas pelas “Comune” de esquerda.
Em Roma, além destes dois exemplos de grande impacto, pois são áreas enormes em zonas consolidadas, proliferam também pequenas casas/edifícios ocupados por associações culturais, grupos de artistas ou exilados políticos. Existem também as ocupações feitas por juventudes partidárias... até os jovens da DS (Democratici di Sinistra – equivalente à Juventude Socialista) têm as suas casas ocupadas...
Okupas de MadridQuando vivi em Madrid frequentei uma casa ocupada fantástica – CSOA Laboratório II. Era a maior ocupação de Madrid e já estava no seu sitio, embora sempre no centro de Madrid e no mesmo bairro Lavapiés. O Alcaide de Madrid, da direita mais profundamente reaccionária e fascista, não conseguia fazer nada contra a força social daquela gente. O Labo, como chamavam, não era só constituído pelos advogados, historiadores ou artistas de rua que lá viviam, mas tinha a solidariedade de todos os vizinhos e forças políticas de esquerda (alguns deputados do PCE tinham-se declarados como okupas às forças policiais). Lembro-me que os pais não temiam deixar as crianças no Labo e eram frequentadores do seu “comedor popular”. A acções do Laboratório abrangiam o maior leque social e etário possível, sendo capazes de gerar solidariedades globais.
Soube, poucos meses após o meu regresso a Portugal em 1999, que tinham sido desalojados de uma forma violenta e sem prévia comunicação. Durante a madrugada fecharam o Bairro e circundaram o edifício, entraram, pilharam e bateram em tudo que se mexia. Alguns companheir@s conseguiram fugir para as casas dos vizinhos que lhes foram abrindo as portas pois as saídas de Lavapiés estavam bloqueadas. Passado um mês foi ocupado o CSOA Laboratório III, que já não conheci.
Tanta gente sem casa, tanta casa sem genteEm Portugal a ocupação, é uma acção maldita. É comumente tida, como uma forma de alguns se apropriarem de aquilo que é de outros. Assim as pessoas podem continuar indiferentes.
Em termos jurídicos, esta acção, nunca é tida como uma contradição entre o direito à habitação e o direito de propriedade. É sempre vista como um abuso e não como um direito.
No caso de Lisboa esta lógica ainda é mais surpreendente. Tanta gente à procura de casa, tanta gente a ir viver para as periferias e tanta casa sem gente, tanta casa que se vai arruinando até cair.
Um céle(b)re Governo disse-nos um dia, que a ruína das casas era motivada pelos baixos preços do aluguer e por isso tentou subir o preço dos arrendamentos urbanos. Embora a Lei não tenha vingado (nem o Governo) a ideia instalou-se na cabeça das pessoas, por forma a que até o outro partido o subscreva. Quando se olha para um edifício devoluto, como aquele quarteirão abandonado na Rua Augusta, pensa-se imediatamente no pobre senhorio que apenas recebe as baixas rendas das lojas do piso térreo e que espera ansiosamente que o Governo passe das rendas em Reis para Euros. Alguém há-de um dia pensar se aquele pobre senhorio, tem o direito de propriedade sobre a nossa cidade.
No momento em que se pensa numa coligação de esquerda para a cidade de Lisboa interrogo-me se nesta matéria “as esquerdas” não poderão ser demasiado dissonantes?
Lisboa à esquerdaDepois de ter apelado, nas
páginas deste blog, para que se pensasse Lisboa, nunca mais escrevi sobre o tema. O trabalho fascista e reaccionário tem ocupado este operário das teclas. Deste modo escrevo só para contrariar as informações,
expressas aqui, de que não vai haver coligação de esquerda para Lisboa. Tenho informações de que irá haver coligação congregando PS, CDU e BE.
Também é falso o boato que o PCP estaria a tentar evitar que o BE fizesse parte da coligação. Parece-me óbvio, para quem tenha dois dedos de visão político-eleitoral, que seria uma idiotice que o PCP deixasse o BE continuar a recolher em Lisboa todos os votos de descontentamento, sem nunca se comprometer. Tenho para mim que está a suceder exactamente o contrário, o PCP só faz coligação se o BE também entrar.
w.w.w@rPaisagens da Destruição v.2004
Em 1989 com a Queda do Muro de Berlim e, alguns anos mais tarde, com o desmembramento da União Soviética, o Mundo entrou numa nova era. Michael Hardt e Toni Negri no seu ensaio “Império – A nova ordem da Globalização” definem-no como a mudança de paradigma que nos levou ao início da Geopolítica pós-moderna1.
No passado, com a chamada “Guerra Fria”, as partes litigantes eram mais definidas e claras. Vivemos quase cinquenta anos num mundo com alguns conflitos regionais localizados (Irão/Iraque ou Paquistão/Índia) e disputas nacionais (Angola, Moçambique, Guatemala ou Argélia), onde os dois blocos se digladiavam de uma forma indirecta, sem estarem oficialmente envolvidos. De tempos a tempos havia alguns momentos de tensão mundial que eram resolvidos através de negociações políticas (Crise dos Mísseis em Cuba).
A Guerra das Estrelas ou a ameaça Nuclear foi sempre uma ameaça latente, mas sempre longínqua. O bipolarismo provocava um equilíbrio negociado que afastava os conflitos mais significativos tanto da Europa como dos Estados Unidos da América.
Entretanto, com o final do mundo bipolar, os anos noventa fizeram-se a partir da ideia que estaríamos a viver num mundo muito mais aproximado. Com o desenvolvimento tecnológico e a proliferação dos meios de informação e transporte podíamos chegar a qualquer lado num curto espaço de tempo. Estas ideias eram reforçadas pelo crescimento da importância da Geopolítica, com o surgimento de novos países, a difusão massiva da Internet e telecomunicações, os movimentos imigratórios entre países vizinhos e a generalização de grandes operações de capitais transnacionais.
As organizações económicas internacionais tais como o FMI, a OMC, o Banco Mundial ou o G7 (agora G8) tornaram-se cada vez mais importantes enquanto agentes do liberalismo económico construindo um sistema de estruturação de valores políticos/económicos e sociais, vigente até aos nossos dias.
Como consequência deste regime de valores, ganha forma uma outra consciência contra-corrente, que se constrói a partir da diversidade de causas e em torno de algumas ideias comuns. O movimento anti-globalização “oficializa-se” a 30 de Novembro de 1998 em Seattle, constitui-se em Porto Alegre e manifesta-se de Génova à Índia, ou da Argentina à Palestina.
Esta é a época da Globalização e da Geopolítica.
Contudo, e ao contrário daquilo que foram as primeiras interpretações após o fim da guerra fria, esta nova era da geopolítica e da globalização não produziu um mundo mais seguro e pacífico.
Por um lado surgiram redes de crime organizado, capazes de actuar de uma forma transnacional, como as máfias russas, as redes ilegais de emigração clandestina ou os emergentes grupos de acção religiosa. Por outro lado e, justificado como resposta a estas redes, os Estados começaram a implementar medidas de segurança jamais vistas que tem tido uma repercussão directa na diminuição das liberdades individuais e colectivas dos cidadãos.
Sobre este assunto é interessante tomar como caso de estudo os EUA.
Ignacio Ramonet no seu artigo intitulado “Vigilância Total”2 publicado no “Le Monde Diplomatique” de Agosto de 2003, descreve três medidas de segurança recentemente implementadas. Imediatamente após o 11 de Setembro, foi criado o “Patriot Act Law” 3 para melhor controlar quem vive dentro do país, numa segunda fase e para controlar quem entra no país foi criado o CAPPS (Computer Assisted Passenger Pre-Screening)4. Por último temos o projecto TIA (Total Information Awareness actualmente renomeado Terrorist Information Awareness); um programa que pretende nos próximos anos, coligir quarenta páginas de informação sobre cada uma das pessoas que vive à face da terra.
A batalha entre as redes de crime organizado (capazes de actuar em qualquer parte do planeta com pouca tecnologia e grandes consequências) com as novas políticas de segurança e os melhores equipados exércitos resulta, mais do que nunca, num sentimento de guerra contínua e global, que se poderá entender como - world wide war.
Não se conseguindo identificar uma data específica ou um momento especial para o início da w.w.war poder-se-á estabelecer uma sucessão de eventos que lhe estão associados; a primeira guerra do Golfo, a intervenção da NATO nos Balcãs, o Estado de terror na Chéchenia, o “11 de Setembro” de Nova Iorque, o “11 de Março” de Madrid, as bombas de Bali ou a situação na Palestina, etc. Contudo parece-nos nesta fase mais significativo para a constituição do retracto das actuais paisagens da destruição estudar o principal conceito apresentado como justificação da situação.
O conceito fundamental é o de Guerra Justa (bellum juste).
Geralmente este conceito é associado aos antigos impérios, sendo que conseguimos encontrar a sua complexa genealogia nas tradicionais interpretações da Bíblia5.
Entretanto este conceito reapareceu no léxico político primeiro com a Guerra do Golfo, depois nos Balcãs, no Afeganistão e actualmente no Iraque. A Guerra Justa é baseada na ideia que quando um Estado é ameaçado por uma agressão que seja passível de ferir a sua integridade ou território, pode utilizar o jus ad bellum, o direito de declarar guerra enquanto resposta a uma agressão. O conceito desvaloriza a noção de guerra, transformando-a numa ferramenta ética para atingir a paz perpétua. Os fins justificam os meios. A necessidade de segurança, legitima todo o investimento que o Estado possa fazer na sua defesa, seja como aparelho de controlo interno ou ataque ao possível inimigo. A chave da prevenção passa a ser “act before it happens”6.
Se qualquer Sistema Judicial pode ser visto como um método como uma estrutura de valores é cristalizado e a Ética como uma parte material do fundamento jurídico, vivemos uma época em que existe uma quase total coincidência entre o elemento jurídico e ético. Expressões como “Guerra Humanitária”, “Danos Colaterais” ou “Guerra contra o Terrorismo” fazem parte da retórica da Guerra Justa, embora existam algumas pérolas discursivas que denotam ideias que estão para além da retórica. George Bush numa das suas primeiras comunicações ao país após a queda das Twin Towers, referiu que a América iria iniciar uma cruzada contra o mal7, ao mesmo tempo que Berlusconi discursava sobre a superioridade da civilização ocidental – duas retóricas muito próximas da Guerra Santa.
Uma das características fundamentais da Guerra Justa é a clareza com que se pretende definir os dois campos opostos, O Bom ou o Mau, o Deus ou o Diabo, o lado da Paz ou o lado do Terrorismo. Estes argumento e artifícios são utilizados por ambas as partes, sendo mais refinados de acordo com o respectivo fundamentalismo religioso.
A Guerra Justa origina a w.w.war.
Conforme vimos a Guerra Justa exige um contexto complexo para que possa ser declarada o esforço ainda terá de ser maior para ser mantida.
Todos os conflitos, crises ou discursos oposicionistas são utilizados para justificar a Guerra Justa. Constrói-se um sistema em que o seu contraditório serve para reforçar a retórica de ofensiva. Ao mesmo tempo a nova ordem resultante, legitimada pela prevenção, defesa e segurança, assiste à escalada dos actos de guerra e conflitos como um processo natural, ao qual é preciso retaliar ainda com maior intensidade.
O sistema surge então como um centro que suporta a globalização e todas as suas redes de produção e de distribuição económica, construindo uma grelha que absorve e ordena todas as relações de poder mais significativas. Os Estados só têm interesse enquanto peças operacionais do sistema, contudo o seu papel é determinante na disposição dos meios de controlo dos “bárbaros”8 que ameaçam a Ordem. Os “bárbaros” podem ser grupos de fundamentalistas islâmicos ou movimentos pacifistas, pois neste contexto ambos servem para justificar medidas de excepção e procedimentos administrativos ou militares.
O invariável alerta vermelho, produz uma sensação global de insegurança e destruição, que pode vir a afectar de uma forma determinante a pratica da arquitectura.
As cidades transformaram-se no palco privilegiado das operações militares e das principais batalhas, perdendo o seu secular sentido de protecção. A cidade contemporânea tende a perder o motivo que levou os primeiros homens a associarem-se em comunidade que seria o da sua própria protecção - esta cidade transformar-se num alvo mais fácil.
Num interessante artigo Swanford Kwinter e Daniela Fabricius, sobre a cidade dos EUA intitulado “American City” 9, é referido que 70% do orçamento anual da cidade de Atlanta (Florida) é gasto em vedações e portões.
Torna-se assim emergente e aceite uma cultura de guerra alicerçada na exacerbação de elementos de defesa. Esta estética é cada vez mais aceite e difusa; do brinquedo metralhadora, ao muro com arame farpado ou ao automóvel particular:
“In the 90’s, the American car industry was marked by a radical transformation: SUV’s began to dominate car sales until they represented over 60% of passenger car industry profits. The modern SUV is hardly more than a ‘repurposed’ World War II infantry and assault vehicle adapted for urban professionals to extend the garrison-style security of their suburban homes to the new concept of a roaming enclave. Urban dwellers now roam in America and Japanese versions of the original British Rover (engine of the British colonial adventure in Africa), like tourists patrolling their own cities made wild and menacing now their own deliberate neglect.
SUV culture expresses at the same time an ambiguous contempt and hostility for metropolitan existence as well as a longing for redemption of the urban soul through equipment…
As an extension of the post-war station wagon – the first car directly marketed for women (now experienced in operating machinery from their role in wartime munitions factories – nearly 60% of SUV’s in the city today are driven by women.”10
Sobre esta nova estética de guerra e segurança, construtora das paisagens de destruição, é interessante analisar ainda o caso do Ground Zero em Nova Iorque. Num artigo da Times Online publicado dois anos após o 11 de Setembro no seu caderno “Travel” (06-09-2003), James Bone explica como espaços de tragédia se transformam em lugares de peregrinação, referindo por exemplo ao facto que o Ground Zero ser actualmente mais visitado do que eram as Twin Towers.
Arquitectos e urbanistas estão naturalmente preocupados com a construção, embora na situação actual a construção seja apenas uma parte do problema.
É cada vez mais ponto assente que tudo aquilo que se constrói poderá vir a ser destruído11. A destruição no quadro da w.w.war, passou a ser um elemento determinante da actividade do arquitecto ou urbanista, seja pela tentativa de prolongar o tempo de vida do que se constrói seja pela participação na destruição do construído.
Neste segundo aspecto o caso de Detroit é paradigmático.
O centro de Detroit foi quase integralmente abandonado. Hoje o antigo centro comercial é considerado uma estrutura demasiado perigosa para se poder entrar, pelo risco de derrocada, ao passo que noutros edifícios crescem árvores de porte. Segundo Kwinter e Fabricius12 desde 1979 foram concedidos 9 000 licenciamentos de construção e 108 000 autorizações de demolição. Acompanhando a necessidade, foi culturalmente instituído em Detroit o Devil’s Night, uma noite antes do Halloween em que grupos de pessoas lançam fogo a edifícios devolutos. Em 1983 foram incendiados 800 edifícios.
Contudo a destruição do construído não tem só o carácter alegórico do exemplo anterior. Conforme já foi referido as cidades transformaram-se nos principais palcos do clima de guerra permanente. Sendo assim, a arquitectura e o urbanismo, desempenham um papel fundamental no desenho das tácticas de guerra, tanto pela forma como se construiu como na forma da sua destruição.
Na Bósnia, a destruição dos edifícios de uso público (mesquitas, cemitérios e praças) seguia um antigo preceito de planeamento; a ordem social não se manterá apartir do momento em que sejam destruídos os locais de uso colectivo. Em Bagdade a lógica partiu da anulação de todas as redes infra-estruturais que a abasteciam - estradas, redes eléctricas e sistemas de abastecimento de água. Em Belgrado procurava-se a vitória psicológica, os principais alvos eram os monumentos e os edifícios de maior identidade cultural. A substituição, de uma anterior infra-estrutura, utilizando-a para os mesmos fins, foi a estratégia assumida em Jenin, quando os bulldozers irromperam nos campos de refugiados tomando as estradas e “limpando” tudo o que as circundava, aumentando a escala dos vazios para melhor controlar a zona. Aliás é paradigmático constatar os inúmeros arquitectos e engenheiros civis que desempenham postos de comando avançado no exército israelita.
Conforme se pretende arguir, na arquitectura e no urbanismo, a geopolítica pós-moderna está também a produzir uma alteração fundamental das respectivas ciências. Seja pelo mundo das cidades inseguras, seja pela estética da destruição, seja pelos muros que reforçam e determinam diferenças, seja pelo devastar de malhas consolidadas.
A prática destas profissões irá, com certeza, sofrer alterações drásticas nos próximos anos e poderá estar dentro destas duas ciências a possibilidade de construção de novos caminhos e soluções ou a conivência para as mais violentas batalhas.
Tiago Mota Saraiva, Dez. 04
Tenho a impressão que o
Barnabé, de perfil realinhado, é um barómetro
daquilo que vai concorrer a Lisboa. A ver vamos... aqui fica a subscrição do desafio lançado no
BDE.
A maioria de nós concordará que a arquitectura é sobretudo uma actividade mental. Diria que vai da imaginação de uma espaço até à sua concepção. Contudo neste período de vida começo, cada vez mais, a descrer do desenho. Seja na sua vertente mais prosaica ou "estilística", seja na sua formula de comunicação com quem está de fora. A imagem tem mais hipóteses que o desenho.
3 Ideias sobre o Conclave do PSD1. Marques Mendes é um líder a prazo
2. Santana Lopes tem uma força real dentro do partido e que resulta de uma estratégia afirmada desde a altura em que Durão era primeiro-ministro.
3. No meio da guerra intestinal, Luís Filipe Meneses ganhou dentro do partido uma expressão que está acima das suas possibilidades.
Conclusão: O PSD continua sem perceber o que se passou nas eleições de Fevereiro.
Mental NoteO Papa já morreu e foi enterrado, PP já tem candidato a lider, o PSD vai para Congresso, a esquerda não se entende, o Benfica vai à frente, e este post é a última coisa que faço antes do fim-de-semana.
Que se pense LisboaSeguindo o conceito aqui deixado pelo Francis do
Berra-Boi, procurarei nos próximos dias pensar nalgumas ideias-chave para a cidade de Lisboa, e que passem ou não por propostas de urbanismo.
Aceito o repto, mas também o devolvo a quem o quizer aceitar.
Ordinice
É cada vez mais recorrente a Ordem dos Arquitectos regulamentar uma condicionante que me provoca especial irritação: São elegíveis todos os sócios com mais de cinco anos de prática profissional. A Prática profissional não tem contudo que ver com obra construída nem com o número de anos de prática num atelier. Este clausulado tem unicamente a ver com a data de inscrição na ordem. Desta forma são elegíveis todos os inscritos há mais de cinco anos, que tem ou não cotas em dia (pois este artigo é sempre esquecido...), e que podem nem sequer exercer. Depois de reflectir um pouco parece-me que a Ordem não pode continuar a exercer este factor de discriminação para como os seus associados.
Esta reflexão vem no momento em que surge este documento que procura estabelecer em 10 anos a experiência profissional necessária. Assim só vamos conseguir que se perpetuem sempre os mesmos...
Na blogosfera, a novidade do dia é o primeiro texto do blog do advogado de Bibi:
José Maria Martins
FORZAGrande vitória da esquerda nas eleições administrativas de Itália (equivalentes às Regionais, se houvesse regionalização, e autárquicas). A Rifondazione Comunista, integrada nas listas de centro-esquerda, elegeu pela primeira vez um presidente de Região na Puglia.
Impressionante o video da Associação Animal sobre as declarações de Fátima Lopes.
Aqui fica o link contra a leviandade das palavras a força das imagens.
A Lisboa que amanheceCarrilho não é a melhor opção que o PS tem para Lisboa. Aliás Carrilho se se candidatar contra, por exemplo, Carvalho da Silva, é bem capaz de não conseguir ser o candidato de esquerda mais votado.
Carrilho, se for sozinho às eleições (ou seja, se for só com o PS-Lisboa) fica inteiramente à mercê, de um dos piores aparelhos partidários locais, constituída por ilustres desconhecidos, que se arrastam de mandato para mandato, sempre à tona de água.
O PS tinha com certeza outras opções. A melhor, no meu entender, era Helena Roseta.
A Helena Roseta para além de não pactuar com os caciques locais, eleitoralmente, era capaz de congregar de uma forma tranquila todos os partidos de esquerda. Do seu mandato esperar-se-ia uma muito maior proximidade com os cidadãos e um interesse real pelos assuntos do urbanismo e da qualidade de vida das pessoas.
Lisboa não pode continuar à margem do urbanismo.
(de regresso do cativeiro)Como se previa Manuel Maria Carrilho e Francisco Assis foram designados candidatos pelo PS às Câmaras Municipais de Lisboa e Porto. Carrilho, diz-se, que pretenderá encabeçar uma lista de unidade de esquerda, para a qual o PCP já manifestou disponibilidade.
O PS-Lisboa, ao invés, não quer coligação na iminência de não ficar com todos os lugares de destaque. O Bloco não se pronuncia e vai deixando as coisas aquecer em lume brando.
E assim vai a esquerda...
Fecho este Blog por uma semana. Terça-Feira estarei de regresso.